quarta-feira, 28 de maio de 2008

CONTEMPORÂNEA - Polanyi - A grande transformação

POLANYI, Karl. A grande transformação. As origens da nossa época. São Paulo: Campus, 1980. Capítulo 12.


Neste capítulo, Polanyi vai descrever suas idéias sobre as origens do liberalismo econômico, consequentemente, também vai tratar um pouco do liberalismo social que começa na Europa e nos Estados Unidos e se expande para o mundo. A principal característica que vai ser ressaltada pelo autor sobre o liberalismo é o laissez-faire econômico, tema que vai ser muito bem explicitado e explicado por Polanyi.
Segundo o autor, o liberalismo econômico foi o princípio organizador de uma sociedade engajada na criação de um sistema de mercado. Pode-se dizer com segurança que o liberalismo econômico não era mais que uma tendência espasmódica até o começo do século XIX. Foi somente nos anos 1820 que Le passou a representar os três dogmas clássicos: o trabalho deveria encontrar seu preço no mercado, a criação do dinheiro deveria sujeitar-se a um mecanismo automático, os bens deveriam ser livres para fluir de país para país, sem empecilhos ou privilégios. Em resumo, um mercado de trabalho, o padrão-ouro e o livre comércio. Com isso, Polanyi delimita os três pilares ou características centrais do começo do liberalismo.
Na Inglaterra, o laissez-faire foi interpretado de forma muito estreita: ele significava apenas libertar-se das regulamentações da produção e o comércio não estava incluído. Foi somente nos anos 1830 que o liberalismo econômico explodiu como uma cruzada apaixonante, e o laissez-faire se tornou um credo militante. Incitado pelo liberalismo econômico, uma grande transformação ocorreu em duas grandes áreas da organização industrial: meio circulante e comércio. O laissez-faire se transformou num credo fervoroso em relação a essas duas áreas quando se tornou aparente a inutilidade de qualquer outra solução que não a mais extremada.
As fontes utópicas do dogma do laissez-faire não podem ser inteiramente compreendidas enquanto analisadas separadamente. Os três pilares – mercado de trabalho competitivo, padrão-ouro automático e comércio internacional livre – formavam um todo. Eram inúteis os sacrifícios exigidos para atingir qualquer um deles a menos que os dois outros fossem igualmente garantidos. Era tudo ou nada.
Não havia nada natural em relação ao laissez-faire; os mercados livres jamais poderiam funcionar deixando apenas que as coisas seguissem seu curso. Assim como as manufaturas de algodão – a indústria mais importante do livre comércio inglês – foram criadas com a ajuda de tarifas protetoras, de exportações subvencionadas e de subsídios indiretos dos salários, o próprio laissez-faire foi imposto pelo Estado. Este mecanismo não era o método para atingir alguma coisa, era a coisa a ser atingida.
O caminho para o mercado livre estava aberto e se mantinha aberto através do incremento de um intervencionismo contínuo, controlado e organizado de forma centralizada. Tornar a liberdade simples e natural de Adam Smith compatível com as necessidades de uma sociedade humana era tarefa muito complicada.
Enfim, o que se pode perceber claramente nas idéias de Polanyi é que, pelo menos em seu começo, o liberalismo econômico, de forma alguma, foi totalmente independente ou não-intervencionista, como muitos liberais querem mostrar. Muito pelo contrário, o Estado teve que intervir com medidas políticas e econômicas para fazer valer os interesses do livre mercado. Nesse sentido, o laissez-faire perde o seu significado semântico quase que por completo, uma vez que as políticas econômicas não eram simplesmente deixadas na “mão invisível do mercado”. Talvez a melhor contribuição deste texto, de fato, tenha sido a delimitação dos pilares centrais do liberalismo econômico tradicional: a valorização do trabalho competitivo, a adoção do padrão-ouro para todas as moedas do mundo e o livre mercado internacional sem barreiras alfandegárias.

NAZISMO - Goodrick-Clarke - Sol Negro

GOODRICK-CLARKE, Nicholas. Sol Negro: cultos arianos, nazismo esotérico e políticas de identidade. São Paulo: Madras, 2004. Capítulo 14 e conclusão.


Segundo Nicholas, raça é o ímã dos cultos arianos e do nazismo esotérico, o princípio-guia de sua visão de mundo histórica e política, ou seja, não se baseiam em nenhum método empírico para o estudo da história.
Os grupos neonazistas britânicos surgiram como resposta aos crescentes níveis de imigração de pessoas de cor, a partir do final da década de 1950. Entretanto, a extrema direita racista não cresceu em um vácuo. Apesar de a opinião liberal nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha se opor fortemente ao racismo, diversos fatores na política ocidental agiram para reintroduzir a raça como uma categoria legítima de identificação grupal.
Também se torna cada vez mais comum a procura por se vitimar os negros e os imigrantes nestes países centrais. A mídia liberal, principalmente, procura salientar um racismo cada vez mais latente por parte dos brancos. Crimes de negros contra brancos, como assassinato, estupro e assalto com violência são muito mais numerosos que crimes de brancos contra negros. Entretanto, a mídia nacional tipicamente salienta os casos de ataques raciais por parte dos brancos, enquanto muitos relatam os crimes dos negros como “indiferentes quanto à cor” e são, em geral, restritos à imprensa local. A presença desproporcionalmente grande da presença de negros no sistema penal, testemunhos evidentes de crimes, de violência e de baixa produtividade dos negros são amplamente ignorados pela mídia liberal, ou considerados como evidência da desvantagem dos negros e do racismo dos brancos.
Escrevendo após a Primeira Guerra Mundial, o teórico racial americano Lothrop Stoddard percebeu a ameaça da imigração tanto em termos econômicos – forçando a redução dos salários – como por suas conseqüências culturais, afetando a religião, as regras de conduta, leis e costumes.
A questão se os Estados Unidos podem realmente assimilar esses imigrantes implora por políticas de bilingüismo e multiculturalismo no sistema educacional. A primazia dos direitos humanos internacionais sobre noções de soberania nacional também levou a uma erosão progressiva da cidadania, pela qual estrangeiros clandestinos recebem benefícios do bem-estar social, da educação, de subsídios do governo e até mesmo o direito a voto.
O autor ainda conclui que os desafios do multirracialismo nos Estados ocidentais liberais são ainda maiores, e é evidente que a ação afirmativa e o multiculturalismo estão levando a uma hostilidade ainda mais difusa contra o liberalismo. De um ponto de vista retrospectivo de um futuro potencialmente autoritário em 2020 ou 2030, esses cultos arianos e o nazismo esotérico podem ser documentados como sintomas iniciais de grandes mudanças desestabilizadores nas democracias ocidentais da atualidade.